segunda-feira, 15 de agosto de 2011

QUANDO O FUNCIONÁRIO DEMITE O PATRÃO
GESTãO
Cada vez mais autônomos, trabalhadores desistem de chefes que desestimulam e não oferecem perspectivas claras de futuro
Quando a administradora de empresas Camila Almeida ingressou em uma pequena empresa de software no Rio de Janeiro, ainda era estagiária. Dois anos depois, foi efetivada. Apesar de gostar muito do trabalho e de ter ajudado a aprimorar a gestão da empresa durante cinco anos, sentia-se desmotivada e decidiu que era hora de pedir demissão. Motivo: o chefe.


A situação de Camila faz parte de uma tendência que, segundo especialistas, se acentua a cada dia: a dos empregados que ‘demitem’ seus patrões. “Desde que comecei a ministrar treinamentos, venho observando que a maioria das pessoas se demite de seus chefes, não da organização em que trabalham”, diz Cintia Menegazzo, professora da Escola de Negócios Contábeis (ENC), psicóloga e sócia da FGY. “O fato é que as pessoas estão com mais autonomia e sentindo-se donas de suas carreiras. É aí que autoritarismo e falta de gestão não combinam."

Para Juliana Dutra, especialista em gestão de pessoas e clientes e diretora da Deep (Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico de Pessoas e Clientes), atualmente os funcionários têm mais clareza quanto às responsabilidades por seu futuro profissional. “Empresas que não oferecem apoio aos planos de carreira, que não apresentam perspectivas claras de futuro ou que não possuem organização na área de gestão de pessoas, de forma que o profissional sinta-se valorizado, correm o risco de perdê-los”, diz. Outros motivos podem levar um funcionário a sair de uma empresa incluem falta de organização e mudança recorrente de metas de atuação, diz Juliana Dutra. “A falta de metas também gera a demissão, pois trabalhar sem foco já não é mais o objetivo dos profissionais mais competentes do mercado”, diz.

Gestão
Segundo a especialista, apesar de trabalharem bem quando cobrados e possuírem alta capacidade de lidar com problemas, algumas empresas exageram e criam pressão desrespeitosa, o que gera não só pedidos de demissão, mas também processos por assédio moral. Em suma, bons profissionais se demitem “por falta de organização, de foco, de compartilhamento de objetivos, de plano de carreira, de valorização e por expectativas não cumpridas”, responde Dutra.


No caso de Camila, a desmotivação pesou na hora da saída. “Gostava muito da empresa”, conta. “Até o último ano, quando a situação piorou. Não conseguia mais ficar focada. O fato de não conseguir mais fazer meu trabalho me levou a pedir demissão. Já estava me sentindo uma péssima profissional.”


Ao ponderar as razões que levam um funcionário a demitir seus chefes, Cintia Menegazzo cita o teórico John Maxell. Segundo o pensador, as pessoas desistem de quem as desvaloriza, de quem não é confiável, de quem é incompetente e de quem é inseguro. Para a professora, é dever do gestor trabalhar esses pontos, envolvendo-se na carreira de seus liderados, orientando, participando e compartilhando experiências.

A especialista Juliana Dutra acha que no ambiente de trabalho não existe conflito que não possa ser evitado. “Problemas acontecem, e a empresa precisa preparar sua liderança e acompanhar o desenvolvimento das pessoas. Para isso precisa haver uma política de gestão de pessoas bem estruturada e organizada.”


Para ela, a resolução de conflitos deve ser feita através do diálogo. Mas, se mesmo assim não houver entendimento quanto aos objetivos futuros das partes, resta o recurso da demissão. “De forma respeitosa e muito profissional, pode-se optar por outro caminho”, diz Juliana Dutra. “O mercado é livre. O que conta é o profissionalismo e a forma como as coisas são feitas e as decisões tomadas.”

Por: Marcelo Vieira




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